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Com adiamentos e dados picados, estratĂ©gia de divulgação da Coronavac provoca guerra sobre a vacina

A gestão Doria mudou outra vez de planos e resolveu pedir o registro emergencial, mas o dado da eficĂĄcia não foi apresentado. Na ocasião, a Sinovac pediu ao Butantan toda a base de dados para reavaliar o estudo, o que levaria atĂ© 15 dias

Por Redação em 13/01/2021 às 00:05:34

A gestão Doria mudou outra vez de planos e resolveu pedir o registro emergencial, mas o dado da eficĂĄcia não foi apresentado. Na ocasião, a Sinovac pediu ao Butantan toda a base de dados para reavaliar o estudo, o que levaria até 15 dias.

Na Ășltima semana, a gestão Doria disparou um aviso à imprensa convidando jornalistas para o "anĂșncio sobre a eficĂĄcia da vacina do Butantan", no dia 7 de janeiro. Na apresentação, com a presença do governador Doria, a gestão afirmou que a Coronavac teve eficĂĄcia de 78% para a prevenção de casos leves de Covid-19 e de 100% para casos graves no estudo.

Os nĂșmeros foram comemorados pela população e por grupos de diferentes espectros polĂ­ticos, mas cientistas questionaram o dado, uma vez que o governo não deu detalhes sobre como se chegou aos nĂșmeros e nem abriu as bases de dados do estudo.

O Butantan convocou a imprensa para um novo encontro, nesta terça-feira, quando os dados completos foram disponibilizados e a eficĂĄcia global, enfim, foi informada: 50,38%.

Com a aparente discrepância de informações, a campanha #DoriaMentiroso entrou nos assuntos mais comentados em redes sociais e virou piada para grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro, com quem Doria busca antagonizar.

"Se apertar mais um pouco, cai para 30%", afirmou um apoiador do presidente. "Caindo mais que a popularidade do Doria", escreveu outro.

Os nĂșmeros diferentes chamaram a atenção também da imprensa internacional. A Reuters chamou os dados de decepcionantes e o Wall Street Journal destacou que o imunizante é bem menos eficaz do que inicialmente.

Outro ponto que provocou crĂ­ticas foi a eficĂĄcia para casos graves, anunciada como de 100% e propagandeada em peças publicitĂĄrias do governo Doria. Nesta terça, no entanto, o Instituto Butantan afirmou que os dados neste segmento ainda não tĂȘm significância estatĂ­stica.

"Chacrinha jĂĄ ensinou hĂĄ um tempão: quem não se comunica, se trumbica. A comunicação em saĂșde é uma das coisas mais importantes que se tem e deve ser feita com a maior clareza e transparĂȘncia possĂ­vel", afirma Ana Escobar, médica e divulgadora cientĂ­fica, que escreve sobre saĂșde e tira dĂșvidas na TV e na internet -só no Instagram tem mais de meio milhão de seguidores.

Butantan divulgou dados que mostram que a vacina teve eficĂĄcia de 78%Foto: Reprodução/Twitter

"Em relação à Coronavac, os nĂșmeros estão todos corretos, tanto os de semana passada quanto os de hoje. Interpretar a eficĂĄcia de uma vacina não é coisa corriqueira, simples. O governo pode não ter colocado os dados com muita clareza, mas agora a gente precisa reforçar que temos uma vacina boa, eficiente, eficaz e segura", diz ela, que elogia os esforços do Butantan para garantir a imunização.

Para o médico e pesquisador Marcio Bittencourt, "a estratégia de comunicação escolhida dĂĄ margem para pessoas questionarem a vacina. É um problema de comunicação, as pessoas não entendem o que os nĂșmeros significam e quem apresentou não os explica", diz ele, que afirma ter receio de que a estratégia errĂĄtica possa ter efeito na vacinação no paĂ­s.

Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP), afirma que que não houve manipulação polĂ­tica dos nĂșmeros divulgados pelo Butantan. "Só acho que eles deveriam ter publicado os dados todos em conjunto, inclusive esses 50,4%".

Domingos deixa claro, porém, que esse complemento não modifica os nĂșmeros que tinham sido apresentados anteriormente. "Continua sendo uma excelente vacina para a gente acabar com o caos que estĂĄ acontecendo hoje, principalmente de internações. É uma vacina eficaz, principalmente para casos graves e moderados, vai reduzir pra caramba o nĂșmero de internações. O que se tem que fazer é urgentemente começar a vacinação, a mais ampla possĂ­vel", afirma.

O dado divulgado nesta terça indica que a vacina reduz em 50% a chance de desenvolver a Covid-19 em qualquer intensidade, desde casos muito leves, com os sintomas mais brandos, até os mais graves.

Ademais, o imunizante se mostrou seguro: só 0,3% dos participantes reportaram algum tipo de reação alérgica.


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Fonte: Banda B

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